Eles são pequenos, rápidos, de difícil visualização e muitas vezes de hábitos noturnos. Quando vistos muitas vezes causam um grande alvoroço! O que muita gente não sabe é que eles são facilmente confundidos com os seus primos exóticos que causaram grandes problemas no passado para a humanidade. De suma importância para o equilíbrio do nosso ecossistema, os roedores nativos são indicadores da qualidade ambiental da nossa região.
A identificação e o monitoramento das espécies que vivem no entorno do empreendimento, assim como a constatação e a criação de medidas de mitigação, caso as obras estejam impactando negativamente as vidas dessas populações de animais nativos, fazem parte do trabalho realizado pela equipe do Programa de Monitoramento de Fauna e Bioindicadores, da Gestão Ambiental das obras de duplicação da BR-116/RS, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Já foram realizadas 34 campanhas de monitoramento na área de influência direta do empreendimento, onde identificaram-se 39 espécies de mamíferos, divididas em grande, médio e pequeno portes. Dessas, 14 são de animais de pequeno porte, sendo 10 de roedores nativos e duas de exóticos.
Os roedores apresentam um papel importante na manutenção dos ecossistemas que coexistem, pois são responsáveis pela dispersão de sementes, controlando a dinâmica das espécies de insetos, e sendo a base da cadeia alimentar de muitos carnívoros como canídeos e felinos, além de serpentes e aves.
As campanhas de monitoramento são realizadas trimestralmente, com duração de cinco dias consecutivos em cada ponto amostral para os mamíferos de pequeno porte. Para captura dos animais são utilizadas armadilhas de contenção viva do tipo Sherman, instaladas em seis sítios amostrais, como os arroios encontrados no entorno da BR-116/RS, além das áreas produtivas, como arrozais e campos para pecuária. Nas armadilhas são colocadas iscas para atrair os animais, compostas por uma mistura de pasta de amendoim, banana, essência de baunilha, farinha de milho e sardinha.
Após a captura, os animais passam por um processo de identificação e biometria, onde são analisadas as características de cada espécie, como a relação do tamanho corporal e tamanho da cauda, a cor da pelagem, o comprimento dos pés e o tamanho do crânio. Em caso de dúvidas quanto à identificação dos indivíduos coletados, eles são comparados com uma coleção museológica de referência que permita a correta determinação.
Também são realizados registros fotográficos da área onde foram instaladas as armadilhas e dos animais capturados, os quais recebem uma marcação com brincos numerados para que, caso sejam recapturados, possam ser comparados os dados atuais com os de outros monitoramentos.
O rato-do-arroz (Oligoryzomys nigripes) foi um dos roedores mais registrados durante as campanhas de monitoramento. Já o rato-do-brejo (Oxymycterus nasutus), também conhecido como rato-focinho, apresenta como o nome diz, um focinho longo, parecido com uma pequena tromba, o que facilita na hora de identificá-lo. Devido à fácil adaptação nos ambientes naturais onde foram realizadas as campanhas de monitoramento, foi constatado que o camundongo-doméstico (Mus musculus) e o rato-das-casas (Rattus rattus) representaram 14% das espécies de pequenos mamíferos registrados.
Durante as campanhas de monitoramentos realizadas no entorno das obras de duplicação da BR-116/RS, no grupo dos mamíferos pequenos também foram capturados a cuíca (Cryptonanus guahybae), um pequeno marsupial encontrado no Rio Grande do Sul, e a preá (Cavia sp.), encontrada em toda América e de mais fácil visualização nas margens da rodovia.